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Substituição de acordes – Parte 2 – Trítono

Olá pessoal, essa aula é a continuação do texto sobre as funções dos acordes dentro da cadência. Vamos ver outras possibilidades com exemplos em tablatura e audio. Para ler a Parte 1 – Substituição por Função Harmônica, clique aqui.

Introdução: A substituição por acordes de mesmo trítono é uma das formas mais antigas e comuns usadas na troca de acordes dentro da cadência harmônica em músicas como o Jazz e a Bossa Nova. Ela traz como resultado a inclusão de notas que não pertencem ao campo harmônico oferecendo inúmeras alternativas na elaboração do trecho musical.

O Trítono (intervalo de 3 tons): É um dos intervalos mais importantes dentro da música tonal ocidental pois cria contraste e movimento, faz oposição a estabilidade fornecida pelo grau tônico. O trítono divide a oitava, que possui 6 tons, em 2 partes iguais de 3 tons. E se repete a cada 3 tons, ou seja, a cada trítono de distância.

Nota Fá + 3 tons = Nota Si

Nota Si + 3 tons = Nota Fá

Tonalidade: Vários fatores contribuem para a formação e determinação do conceito de tonalidade. Vou explicar dentro da tonalidade de Dó Maior.

Segunda Maior – Dó + 1 tom = Ré.
Terça Maior – Dó + 2 tons = Mi.
Quarta Justa – Dó + 2 ½ tons = Fá.
Quinta Justa – Dó + 3 ½ tons = Sol.
Sexta Maior – Dó + 4 ½ = Lá.
Sétima Maior – Dó + 5 ½ = Si.

As cadências Harmônicas são determinantes para estabelecer a idéia tonal pois criam movimento, chegam num ápice e retornam, fechando o ciclo que chamamos de tonalidade. Observe o exemplo:

C | F | G7 | C

T | SD | D | T



O primeiro acorde (C) é a referência, o ponto de partida, cria sensação de repouso.

O segundo acorde (F) é o afastamento, gera movimento e interesse, cria a história.

O terceiro acorde (G7) é o ápice provocado pela tensão do trítono, quer ser resolvido.

O quarto acorde (C) é o retorno ao ponto de partida, o fechamento do ciclo tonal, a volta ao repouso.


Historicamente a aceitação do trítono e da sua resolução foram determinantes para a consolidação da idéia tonal. Escutamos o trítono e entendemos prontamente o caminho que será tomado, como a dissonância será resolvida. Esse conceito está tão implantado que mesmo no acorde de tríade (G), onde a ausência da sétima (F) dissolve o trítono, escutamos a tensão, criamos a expectativa.

C | F | G | C

É usando essa lógica que fazemos a substituição do acorde de trítono por outro que tenha, na sua estrutura, o mesmo trítono.


Substituição 1: Por acorde de sétima da dominante 3 tons acima.

Como o trítono se mantém a cada 3 tons, ao deslocar o acorde de G7 3 tons acima ou abaixo mantemos o mesmo trítono, mas o acorde muda para Db7.

C7M | Dm7(9) | G7 | C7M

Muda para

C7M | Dm7(9) | Db7 | C7M

Pelas regras da harmonia tradicional evita-se fazer um movimento de vozes chamado “Quinta paralelas”. Isso acontece quando existe um intervalo de quinta justa entre 2 vozes de um acorde e esse intervalo se mantém nas mesmas vozes do acorde seguinte.

Veja o exemplo em tablatura:

No acorde de Db7 existe um intervalo de quinta justa entre o baixo (corda 5, nota Db) e a nota seguinte (corda 4, nota Ab) que se mantém no acorde de C7M (C – G). Essa regra passou a ser ignorada na harmonia funcional, mas é comum encontrar a versão desse acorde substituto sem a quinta, com uma décima primeira aumentada (nota G – lembrança do acorde de G7) para corrigir o problema.

C7M | Dm7(9) | Db7(#11) | C7M

Condução das vozes: É sempre interessante observar de que forma as notas vão ser dispostas dentro do acorde para criar uma melodia que ajude a justificar a substituição. Os acordes substitutos possuem notas que muitas vezes não fazem parte do campo harmônico da cadência, mas que se dispostas de maneira correta soam como cromatismo ou aproximações cromáticas. Note esse tipo de condução nos exemplos abaixo.


Substituição 2: Pelo Grau 7 do Campo Harmônico. Vimos anteriormente que a distribuição da função de dominante dentro do campo harmônico maior ou menor está associada a presença do trítono da escala dentro da estrutura do acorde. Como o Bm7(b5) tem o mesmo trítono de G7 ele pode ser um substituto.

C7M | Dm7(9) | Bm7(b5) | C7M

Deslocando o Bm7(b5) 3 tons acima mantemos o trítono mas o acorde muda para Fm7(b5), que é o proximo acorde substituto.

C7M | Dm7(9) | Fm7(b5) | C7M

Observe a condução das vozes no exemplo acima. No acorde de Fm7(b5) a nota Láb é cromatismo entre Lá (acorde de Dm7(9)) e Sol (acorde de C7M). A nota Mib é aproximação cromática para a nota Mi (acorde de C7M). O Dób é enarmônico com Si que faz parte do campo harmônico da cadência.


Substituição 3: A inversão do acorde de Bm7(b5) é o acorde de Dm6, eles possuem as mesmas 4 notas…

Bm7(b5) tem as notas (B D F A)  e o acorde de Dm6 tem as notas (D F A B), só mudam a ordem. Então o acorde de Dm6 pode ser usado para substituir o Bm7(b5) e por consequência para substituir o G7.

C7M | Dm7(9) | Dm6 | C7M

Deslocando o Dm6 3 tons acima mantemos o trítono mas o acorde muda para Abm6, que é o proximo acorde substituto.

C7M | Dm7(9) | Abm6 | C7M


Substituição 4: Uma variação do acorde de Bm7(b5) é o acorde de Bo, eles possuem 3 notas em comum…

O acorde de Bm7(b5) tem as notas (B D F A) e o acorde de Bo tem as notas (B D F Ab). O trítono é o mesmo nos dois acordes, por consequência podemos usar o Bo como substituto de G7.

C7M | Dm7(9) | Bo | C7M

Ciclo dos diminutos: O acorde diminuto é um acorde simétrico, ou seja, a distância entre suas notas é sempre a mesma, 1 ½ tom. Ele pode ser encarado como a soma de 2 trítonos.

Exemplo: Bo (B D F Ab), trítono entre B e F e trítono entre D e Ab.

A cada 1 ½ tom de deslocamento no braço da guitarra o acorde diminuto é o mesmo, suas notas só mudam de disposição dentro da estrutura do acorde.

Bo (B D F Ab)

Na prática só existem 3 acordes diminutos que se repetem a cada 1 ½ tom no braço da guitarra:

Bo = Do = Fo = Abo (G#o)

Co = Ebo (D#o) = Gbo (F#o) = Ao

C#o (Dbo) = Eo = Go = Bbo (A#o)

Então podemos usar na cadência, ao invés do Bo, os acordes de Do, Fo ou Abo.

C7M | Dm7(9) | Do | C7M

C7M | Dm7(9) | Fo | C7M

C7M | Dm7(9) | Abo | C7M


Relação de proximidade entre T7 e To: Podemos encarar o acorde diminuto como um acorde de sétima da dominante (b9) sem a tônica…

G7(b9) vai ter as notas (G B D F Ab), tirando a tônica Sol fica (B D F Ab) = Bo = Do = Fo = Abo

Essa comparação é interessante e tem uso prático direto.

1 – Podemos substituir G7 por qualquer diminuto correspondente

2 – Se o baixo está tocando a nota Sol, podemos tocar apenas o complemento do acorde (Bo, Do, Fo ou Abo) e a soma resultará no G7(b9). Podemos inclusive alternar entre os diminutos, seja no formato harmônico (acorde) ou melódico (arpejo), que a harmonia se mantém.


Síntese das soluções de substituição do G7:


Dica: Uma forma de chegar nas soluções de substituição é relacioná-las com a formação do acorde dominante.

G7 – Composto pelas notas G (Tônica), B (Terça) e D (Quinta).

3 tons acima da Tônica temos os substitutos Db7 e Db7(#11), mesma formação de sétima da dominante.

Na Terça temos o Bm7(b5) e o Bo, e 3 tons acima o Fm7(b5) e o Fo.

Na Quinta temos o Dm6 e o Do, e 3 tons acima o Abm6 e o Abo.


Exemplo 1: Substitutos do acorde de C7

Formação: C7 – C E G Bb

Tônica C + 3 tons = Gb7 e Gb7(#11)

Terça E = Em7(b5) e Eo + 3 tons = Bbm7(b5) e Bbo

Quinta G = Gm6 e Go + 3 tons = Dbm6 e Dbo

Então C7 pode ser substituído por Gb7, Gb7(#11), Em7(b5), Eo, Bbm7(b5), Bbo, Gm6, Go, Dbm6, Dbo.


Exemplo 2: Substitutos do acorde de A7

Formação: A7 – A C# E G

Tônica A + 3 tons = Eb7 e Eb7(#11)

Terça C# = C#m7(b5) e C#o + 3 tons = Gm7(b5) e Go

Quinta E = Em6 e Eo + 3 tons = Bbm6 e Bbo

Então A7 pode ser substituído por Eb7, Eb7(#11), C#m7(b5), C#o, Gm7(b5), Go, Em6, Eo, Bbm6, Bbo.


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